AM 0134 – A teoria da Janela quebrada (138-1945)

AM 0134 – A teoria da Janela quebrada

Atitude Memorável 0134

Em 22-12-1984, Bernhard Goetz foi abordado por 4 rapazes que estavam fazendo arruaça dentro do metrô.

Após uma discussão e pedido de dinheiro, Goetz colocou a mão no bolso e tirou uma Smith and Wesson calibre 38 e disparou nos garotos, um a um.

O condutor perguntou se ele era da polícia.

– Não, não sei por que fiz isso. – E depois de algum tempo: – Eles tentaram me limpar.

Os 4 rapazes tinham ficha na polícia.

Cabey por assalto à mão armada, Canty por roubo.

Três deles levavam chaves de fenda nos bolsos.

Pareciam personificar o tipo de jovem assassino temido por quase todos os habitantes das cidades, e o misterioso atirador que os alvejara era um anjo vingador. Canty sobrevivera.

Os tablóides começaram a chamar Goetz de Vigilante do Metrô e Atirador vingador.

Uma semana depois do confronto, Goetz se entregara, enquanto Canty saia do hospital. A manchete dizia: “Algemado enquanto Delinqüente Ferido fica em Liberdade.”

No julgamento, Goetz fora absolvido com a maior facilidade.

Na noite do veredicto houve uma festa improvisada e bastante barulho em frente ao seu prédio.

O caso Goetz se tornou símbolo de uma época (1984) sombria da história de Nova York.

  • Durante a década de 1980, a cidade de Nova York atingiu:
    Média anual de 2 mil assassinatos.
    600 mil crimes graves.
  • Nos espaços subterrâneos do metrô, as condições eram caóticas.
  • Cercada por paredes escuras, úmidas e pichadas.
  • Nessa época havia um incêndio por dia no sistema metroviário.
  • Havia um descarrilamento a cada duas semanas.
  • O vagão em que Goetz viajara era nojento.
  • O chão coberto de lixo.
  • As paredes e o teto imundo de pichações.
  • Naquele ano, 1984, os 6 mil vagões da Transit Authority eram pichados de cima a baixo, por dentro e por fora.
  • No inverno esses carros eram frios poucos tinham aquecimento adequado.
  • No verão o calor era sufocante porque não havia ar condicionado.
  • O calote na bilheteria era tão comum que estava dando um prejuízo à Transit de US$ 150 milhões ao ano.
  • Ocorriam 15 mil delitos anuais graves no sistema metroviário. Número que chegaria a 20 mil no final da década.
  • O assédio de pedintes e pequenos criminosos era tão habitual que a freqüência dos usuários caiu ao nível mais baixo da história daquele serviço de transporte.

Assim era Nova York na década de 1980, uma cidade nas garras da pior epidemia de crimes da sua história.

No entanto, de repente e sem aviso, a epidemia deu uma guinada, o índice de criminalidade entrou em vertiginoso declínio.

No final de 1990, a ocorrência de ilícitos penais graves nas estações do metrô era 75% menor do que no início da década.Assassinatos : caiu dois terços.
Delitos graves : diminuiu 50%

Quando Goetz foi a julgamento pela segunda vez, agora com réu num processo civil movido por Darrell Cabey, o caso foi ignorado pela imprensa e a propria figura de Goetz parecia quase anacrônica.

Numa época em que NY se tornara a metrópole mais segura do pais, era difícil lembrar exatamente o que Goetz um dia simbolizara.Era inconcebível que uma pessoa puxasse uma arma para atirar em alguém no metrô e ainda fosse chamada de herói por isso.

Como isso aconteceu?

A resposta está no PODER DO CONTEXTO.

Nós não somos apenas sensíveis às mudanças de contexto. Somos EXTREMAMENTE SENSÍVEIS a elas.

Durante a década de 1990, o número de crimes violentos nos Estados Unidos diminuiu em todo o território nacional por motivos compreensíveis:1) O comércio ilegal de crack entrou em declínio.
2) A expressiva recuperação da economia gerou mais empregos.
3) O envelhecimento geral da população.

Porém, a queda no índice é um pouco mais complicado.

O declínio do crack vinha acontecendo de uma forma constante ao longo do tempo, muito antes da queda da criminalidade.

Quando iniciou a melhora a situação econômica ainda não havia melhorado.Nos anos 1990 NY estava ficando mais jovem por causa da intensa imigração.

Algo mais teve um claro papel nessa mudança. Esse algo mais podemos chamar de TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS.

Os criminologistas James Q. Wilson e George Kelling argumentam que:

O CRIME É O RESULTADO INEVITÁVEL DA DESORDEM.

Se uma janela está quebrada e não é consertada, quem passa por ali conclui que ninguém se importa com aquilo e que não há ninguém no controle.

Em breve, outras janelas aparecerão quebradas, e a sensação de anarquia se espalhará do prédio para a rua, enviando a mensagem de que ali vale tudo.

Problemas insignificantes como pichação, desordem em locais públicos e mendicância agressiva, são o equivalente das janelas quebradas – convites para crimes mais graves.

Nota: Basta adaptarmos esses exemplos para empresas e escolas, e teremos explicações para as negatividades nesses ambientes: baixa produtividade dos funcionários, baixo desempenho de alunos, desmotivação geral.

O ladrão pensa: Se a vizinhança não é capaz de evitar que um pedinte incomode as pessoas nas ruas, é menos provável ainda que chame a polícia para identificar um possível assaltante.

O funcionário pensa: Se a liderança não segue nem os procedimentos básicos de horário, cumprimento de datas nas tarefas, e limpeza do ambiente, é menos provável de que eu seja penalizado de agir parecido.

O aluno pensa: Se os professores não seguem a rotina, se o ambiente é quente e barulhento que atrapalha o entendimento, é provável que se eu for mal nas provas não serei penalizado.

O crime é contagiante, assim como a tendência da moda e a indisciplina, e pode começar com uma janela quebrada.

Nosso Professor Marins já dizia: Atenção aos detalhes é fundamental.

O ímpeto de adotar uma forma específica de comportamento vem da característica do ambiente.

INICIO DA MUDANÇA.

PICHAÇÃO ZERO.Em meados da década de 1980, Kelling foi contratado como consultor e insistiu que colocassem em prática a TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS.

Contratou Gunn como novo diretor do metrô.

Muitos disseram para ele não se preocupar com as pichações, que se concentrassem nas coisas mais importantes relacionadas ao crime.

E o conselho parecia sensato. Ficar pensando em rabiscos num momento em que todo o sistema estava prestes a entrar em colapso parecia tão absurdo quanto esfregar os deques do Titanic quando ele já estava indo em direção aos icebergs.

Mas Gunn insistiu. Era um tal de pichar durante a noite e, antes do amanhecer, Gunn havia repintado tudo.

Se não conseguia, o vagão ficava parado… e assim foi.

William Bratton foi contratado para chefiar a polícia de trânsito.

CALOTE ZERO.O calote nas passagens era um sinal de uma expressão de desordem que convidava a delitos mais sérios.

Estimava-se 170 mil pessoas por dia sem pagar. Algumas simplesmente crianças que pulavam as roletas.

Outras forçavam a entrada empurrando a roleta ao contrário.

E, assim que dois ou três indivíduos começavam a fraudar o sistema, outros, que talvez jamais tivessem pensado em burlar a lei, faziam o mesmo com base na ideia de que, se alguém entrava ali de graça, eles também não deveriam pagar. E a história virava uma bola de neve.

Bratton era um líder nato e rapidamente a sua presença se fez sentir.

Manteve dez policiais à paisana.

Algemava os caloteiros e os colocava em fila na plataforma para que todos vissem. Montou um ônibus delegacia onde fazia tudo. Descobriu que:

1 – um em cada sete tinha uma ordem de prisão pendente.
2 – um em cada vinte portava um tipo de arma.

De repente, os mal intencionados começaram a deixar as armas em casa e a pagar a passagem.

Com Bratton as pessoas expulsas do metrô por embriaguez ou comportamento impróprio triplicou nos primeiros meses.

As prisões por crimes menores, o tipo de delito insignificante em que não se prestava atenção no passado, quintuplicaram entre 1990 a 1994.

Bratton transformou a polícia de trânsito numa organização concentrada das menores infrações, nos detalhes da vida subterrânea.

Em 1994, Bratton foi eleito chefe do departamento de polícia da cidade de NY.Reprimiu a ação dos caras do rodinho, que limpam parabrisa.Reforçou lei contra embriaguez.Leis contra os que jogavam garrafas nas ruas.

A TEORIA DA JANELA QUEBRADA e o PODER DO CONTEXTO são a mesma coisa.

Ambos se baseiam na premissa de que uma epidemia pode ser revertida, pode dar uma guinada, consertando-se detalhes mínimos do ambiente imediato.

Vamos voltar ao encontro dos 4 jovens com Bernie Goetz no metrô.1) Pelo menos dois deles estavam drogados na hora do incidente.
2) Vinham todos do conjunto habitacional situado numa das piores áreas do Bronx.
3) Na época estavam indiciados por assalto à mão armada.
4) Canty já havia sido preso por roubo.
5) Allen, por tentativa de agressão.
6) Allen, Canty e Ramseur também já tinham sido condenados por delitos menos graves.
7) Dois anos depois dos disparos de Goetz, Ramseur foi condenado a 25 anos de prisão por estupro, roubo, sodomia, abuso sexual, agressão, uso criminoso de arma de fogo e posse de bens roubados.

É difícil se surpreender quando alguém assim acaba metido num incidente violento.

Agora, Goetz.1) Ele fez algo totalmente fora dos padrões.
2) Profissionais brancos não costumam atirar em negros no metrô.
3) Seu pai era um disciplinador rígido e de temperamento exaltado.
4) Goetz era alvo da fúria do pai.
5) No colégio, os colegas implicavam com ele, era o último a ser convocado para os jogos escolares.
6) Era uma criança solitária que quase sempre voltava para casa chorando.
7) Depois de formado estava sempre batendo de frente com os superiores.
8) Desobedecia as normas da empresa.
9) Alugou um apartamento num trecho com muitas drogas circulando.
10) Um dos porteiros do prédio levou uma surra de delinqüentes.
11) Goetz estava obcecado com a ideia de limpar o bairro.
12) Numa reunião na comunidade disse: O único jeito de limpar essa rua é acabando com os cucarachos e os negros.
13) Em 1981 ele foi agredido por três negros. Eles levaram seu equipamento eletrônico. Saiu correndo perseguindo os três. Dominou um dos três, mas a experiência o deixou exasperado. Teve que passar 6 horas na delegacia, falando com a polícia, enquanto o agressor foi liberado duas horas depois, acusado apenas de má conduta.
14) Ele solicitou um porte de arma a prefeitura. Negaram.
15) Em setembro de 1984, seu pai morreu.
16) Três meses depois ele se viu diante dos 4 jovens negros no metrô e começou a atirar.

Daí se conclui o grande impacto que exerce o ambiente sobre nós em todos os aspectos, tanto na vida pessoal como profissional.

A grande finalidade da vida não é o conhecimento, mas ação. Thomas Huxley

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